Djamila Ribeiro é escritora e filósofa, formada pela Universidade Federal de São Paulo. Ficou conhecida por seu ativismo feminista e antirracista na internet e é hoje colunista da Folha de São Paulo e uma das vozes mais importantes no combate ao racismo no Brasil. No mês da consciência negra, Djamila fala sobre a desigualdade estrutural brasileira e propõe uma saída coletiva para o problema, junto às empresas, com o fomento de políticas de inclusão para estimular a criação de ambientes de trabalho mais diversos: “É importante e fundamental quebrar o silêncio quando o assunto é opressão”.
O impacto da desigualdade estrutural
O racismo estrutural se tornou um tema recorrente: esse conjunto de práticas históricas, culturais e institucionais de discriminação consolidadas em nossa sociedade. Para Djamila Ribeiro, antes de falar de diversidade, primeiro devemos entender a construção histórica e as origens da desigualdade brasileira. O Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravidão, em 1888. Dos quinhentos e vinte anos do país, trezentos e cinquenta e três deles foram marcados pelo regime escravista: “Por isso é importante a gente entender, enquanto brasileiros, como a nossa sociedade foi construída, porque o hoje é reflexo de muitas ações que foram tomadas no passado”.
Djamila nos convida a refletir sobre o impacto social de quase quatro séculos de opressão sobre estes corpos em uma sociedade, até hoje, com poucas políticas de reparação. Esse passado continua vivo em nossa memória social e na forma como nos relacionamos como sociedade e ele também se reflete na escassa presença de pessoas negras e mulheres em cargos de liderança.
Estarmos cientes de nossa concepção histórica nos ajuda a entender o presente. Segundo dados do Insper, hoje no Brasil, homens brancos têm salários até 169% mais altos que mulheres negras exercendo as mesmas funções. Já as mulheres brancas ganham 30% menos que seus companheiros de cargo homens, indício de que as perspectivas de raça e gênero não podem ser ignoradas para que possamos formar uma visão mais abrangente de nossa realidade. Segundo Djamila, é necessário deixar de naturalizar esses padrões opressores e incluir mais mulheres e pessoas negras de forma igualitária no mercado de trabalho.
Inovação e criatividade: os frutos de um ambiente diverso
Apenas após entender como essa desigualdade foi construída é que podemos começar a pensar sobre o que pode ser feito para diminuí-la e, finalmente, entrar no debate sobre a diversidade nas empresas. Há duas formas de encarar a necessidade pela diversidade em ambientes corporativos: a possibilidade de pensá-la a serviço de interesses econômicos e também a partir da perspectiva da responsabilidade social, aponta a filósofa.
Está comprovado que equipes mais diversas obtêm melhores resultados e que podem entender melhor e de forma mais abrangente as necessidades de negócios. Um ambiente diverso ganha muito em inovação e criatividade, “já que grupos homogêneos tendem a ter mais dificuldade em pensar soluções e produtos para um público diverso”. Ambientes diversos avançam em questões éticas, criativas e econômicas. A visão do mundo de mulheres, pessoas negras, indígenas e de diferentes faixas etárias, expande e enriquece essas experiências. Djamila nos faz questionar: é justo que apenas um grupo de pessoas domine esses espaços? E completa afirmando que: “Consumidores conscientes, independente do grupo ao qual pertencem na sociedade, adquirem produtos e serviços de empresas que projetam uma imagem de diversidade”, esse é o crédito econômico e social das políticas de inclusão.
Todos podemos ser agentes de transformação
A promoção da diversidade tem a capacidade de melhorar o espaço de trabalho e a relação entre funcionários e colaboradores, por isso também é nossa responsabilidade como indivíduos refletir que não somos únicos no mundo, que afetamos e somos afetados. A WeWork aposta no compromisso com a colaboração, a gentileza e a humanidade.
Para Djamila, devemos trabalhar como sociedade para que as pessoas possam ser inseridas e tratadas igualitariamente em diferentes áreas, independe de raça, sexo, ou credo. Segundo ela, deveria ser um compromisso das corporações, não apenas incluir, mas construir esses processos dentro das empresas em etapas de conscientização. Pensar no tratamento dessas pessoas nesses ambientes, criar uma cultura de empatia e respeito. Escutar e ensinar a escutar. Lutar para que os espaços de trabalho não sejam ambientes hostis e segregadores.
Djamila Ribeiro conclui que, como indivíduos e agentes interessados na transformação, precisamos encarar nosso papel nesse processo como um lugar de responsabilidade e não de culpa, pois a culpa está relacionada com a inércia, enquanto a responsabilidade com o desejo de mudança. Para que assim, possamos juntos construir a sociedade que desejamos.